terça-feira, 22 de outubro de 2019

Saudades do mar

Saudades do mar como se a ele houvesse pertencido minha vida inteira 
como se o calor que me ardia os ombros me desfizesse de pesadas vestes 
e me cobrisse de sal, areia e sol. 
As palavras que digo não traem as montanhas de minhas solidões. 
Mas o mar... 
incólume em meus abraços, faz-me esquecer... 
De volta ao caos, me perco outra vez, no mar contido nos olhos de um poente 
ressaca que me lança de novo às águas fundas de um oceano intangível 
são mais bondosos e risonhos que a minha loucura 
aqueles olhos. 

O poente

O poente estava perfeito. Nos dizeres de um poeta: "bonito e trágico como tudo que é verdadeiro". 
Tinha ele razão. Era tamanha a boniteza daquele instante, e tão trágico o entardecer, que durara muito pouco, mas se estendeu o bastante para banhar os corpos na areia de algo sagrado que eu não saberia dizer. Talvez encontremos algum sentido nas grandes narrativas das religiões, ou talvez não; mas naquela tarde, naquele pôr de sol dourado, naquele ínfimo instante, nada, absolutamente nada, necessitasse de um sentido nem de eternidade, bastar-me-ia estar na areia úmida, ébrio da luz plácida e crepuscular que me convidava contemplar a finitude. 

Aqui e acolá

Aqui... 
uma pilha de livros para ler 
mas debruçar-me sobre eles não quero. 
Leituras que obrigam a aprender 
mas que não me ensinam o prazer 
de estudar. 
Acolá... 
Uma pira de livros prontos a queimar 
outra, de gente, a fazê-la. 
A escola, a docente e o futuro, 
mediocridade ou revolução, 
pira feita com a educação. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O som das ondas

Hoje, num fim de tarde, fui ao encontro do mar. As ondas quebravam nas pedras;  
no meu rosto salpicava a maresia e o sereno quebrava o meu cansaço. Eu admirava aquele arrebol e seguia a orla, então o som da rebentação das ondas me pareceu mais belo  
que toda canção já escrita. Sanava o gume de meus fracassos; 'curava' amores entalados cá dentro, na alma. Quando a noite, enfim, ascendeu, eu queria viver.