quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Miudezas

Meu amor é um pássaro pequeno, daqueles miudinhos,
voa e pousa em qualquer lugar,
sem pressa e ambição alguma de ficar.
Um dia encontrei um amor, ele não me devolveu minha beleza.
A melodia que cantava, com o tempo,
entristeceu por ficar num mesmo canto.
Meu amor, esse pássaro pequeno, muitos desejaram deformar,
transformar,
reformar.
A miudeza era feiura. Não era beleza.
Não entenderam que feiura e beleza são aspectos da mesma arte.
Eu, porém, sou poeta dos contrários,
profeta dos caminhos tortos.
Sou um amante de miudezas.
Que a primavera me assopre seus ventos,
aromas diversos de amores,
eu irei.
Meu amor. Adeus.

domingo, 18 de setembro de 2016

Toda reza


O que o tempo levou de mim para que eu seja interrogado
como quem cometeu grave pecado?
Pecado não cometi; sinhá Maria sabe dizer.
Teu menino me trouxe arte, arteiro eu quero ser.
Vou brincar com as palavras, com a seriedade que merecem,
como correr pelado com tudo à mostra,
no quintal de casa, na roça,
só para as primas entreter.
A vida endurece se a gente se adulta. 
Se se esquece a flor do ipê.
E o tempo, injuriado, é porque a eternidade chega em instantes,
a gente prova um pedaço e esquece dele, o tempo.
Foi assim quando beijei o menino e a menina,
o tempo não existia.
Não tinha mais as rezas de mãezinha,
e nem o medo do morrer.
Acho que toda reza devesse ser assim,
feito um beijo. Sem ditos corretos,
somente um sentimento vivido que ninguém entende se a gente diz.

domingo, 11 de setembro de 2016

Refração


...E quando, por ventura, 
eu não me reconhecer
no mesmo espelho em que me vejo,
surpreenda-me;
olhos vedados por suas mãos.
Irei tatear a sonoridade de sua voz
até encontrar os contornos de seu rosto.
O sorriso seu, escancarado,
que me desperta uma quietude indefinida,
despertará segundos de paixão,
uma imagem refletida em meus sonhos sem nenhum pudor.
Ainda que imagem refratada na distorção do meu querer.