segunda-feira, 20 de julho de 2015

Amizades

O verbo amar conjuga a vida
e dos amores que a vida traz,
a cumplicidade de um amigo
nenhum amor se iguala,
nenhum amante segreda.

Amizades que crescem na simpatia espontânea
no primeiro dia de aula, da primeira infância.
E envelhecem juntas até a hora derradeira.

Um amigo querido que a inevitabilidade da morte
acolhe em seu manto de mistério,
sem ao menos nos permitir um último adeus...
Um amor dolorido por sentimentos engasgados na garganta.
Tamanha a dor.

Amizades seladas por laços sanguíneos.
Um irmão que se faz grande amigo.
Um amigo que antecede o irmão.

Um amigo, uma amiga que chegam ao acaso
e em pouco ocupam as mais deliciosas lembranças.
Amigos de conversas noite adentro, de madrugadas até a aurora.
Amigos para se permitir adentrar a casa sem bater à porta,
abrir a geladeira sem permissão e acordar assustadoramente às onze da manhã.

Amizades que escondem uma paixão, um beijo desejado.
Um beijo bem dado, talvez... por que não?!
Amores que em amizade se fundem, confundem-se.

O amigo que o tempo e o distanciamento enuviaram,
e um dia, quem sabe, tropeçaremos, um e outro,
em uma rua qualquer, em qualquer lugar do globo.
O amigo que parece esquecer-se de mim,
quando na verdade, aguarda-me ansioso para o abraço.

Amizades que me ensinam, me apaixonam pela vida.
Amizades que me salvam não uma única vez, mas quase todos os dias.
Amizades que guardam consigo metades de mim.

domingo, 12 de julho de 2015

Pecado Original

Foi-me dito em minha infância sobre um tal pecado original. Mas criança que eu era e, antes disso, ainda no regaço de minha mãe, inocente, puro, indefeso, como ser portador de um pecado? Nascer pecador, eu, que sem consciência de mim nada sabia e tudo ignorava a não ser os seios que me amamentaram?!

Os anos correram ligeiro, a criança adolesceu para o mundo. E continuava sem entender o porquê do pecado. E, se nos primórdios, o pai e mãe original pecaram por degustar um fruto proibido plantado no paraíso, diga-me, porque diabos a sua árvore estava plantada no paraíso, com o selo de interdição? Seria melhor Deus não a ter plantado... E que diabos, o diabo fazia no paraíso?

O menino cresceu. Tornou-se um homem. Um homem não feito. Porque este menino-homem é um homem de incertezas. O pecado original não o aflige, ignora-o. Os outros pecados, igualmente, recebem o mesmo descrédito. O amor. Apenas o amor é originariamente necessário, magnânimo. A sua falta é uma falta verdadeira.

O homem de incertezas não se apoia em conceitos absolutos. Duvida das verdades doutrinárias e da mediocridade humana, começando por si próprio. Duvida de suas posições contra a natureza do ser, duvida de suas investidas contra o que lhe é mais humano: o desejo, a dor, o prazer e o sofrimento.

A certeza habita apenas o epílogo da morte. Entretanto, a morte não lhe é estranha. Acolhe-a como o pobrezinho de Assis, com familiaridade. A morte que não nos vem por causa do pecado. Mas, porque nos intervalos entre a vida, nascemos e morremos.

O pecado original de Adão e Eva não me importa e, ouso mais, meu Deus, porque se Você morreu por meu pecado, pelo pecado da humanidade passada, presente e futura, é necessário comunicar-lhe que as pessoas cá embaixo continuam desamando-se uns aos outros.

Se se compreende que pela falta do amor entre seus semelhantes, mataram-Lhe, verifico que, na ausência de um amor mais socialmente integrado entre os seres humanos, (com menos apetrechos legalistas e mestres déspotas das fés), nossa racionalidade e emocionalidade se descaminham e se extinguem em um inferno geográfico.

Pecado original...