Percebo que alguns grupos que se mobilizam para o GRITO têm dificuldades para encontrar algum material que possa subsidiar suas reflexões em preparação ao ato do dia 07/09. A pedido de um destes movimentos, redigi o texto a seguir sobre o lema do 21º Grito dos Excluídos.
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“No coração e na alma de todos e de cada um, grita um lema que é, ao
mesmo tempo, uma interrogação, uma denúncia, um questionamento à exploração que
debilita e mata”. Dessa forma, manifesta-se o Grito dos Excluídos ao
apresentar o lema para o ano de 2015. Em nossa América latina, existe enorme
variedade de emissoras de televisão. A grande maioria possui ligações com
grupos econômicos e políticos. Os meios de comunicação social tradicionais são
uma força estratégica de disseminação da ideologia neoliberalista e dos
interesses hegemônicos dos EUA.
O que se observa hoje, em
vários países sul-americanos, uma investida política de direita apoiada pela
grande mídia tradicional, é parte do plano oculto que objetiva atacar os
governos e organizações de esquerda. Segundo o filósofo Buen Abad, “não cabe dúvida sobre o avanço em relação
aos golpes de Estado na América latina. Somente no século 21 já tivemos cinco
golpes de estado na região e em todos os casos houve guerra midiática, que
operou para legitimar esses golpes”. No
Brasil, percebe-se a ferocidade com que os principais veículos de (des)
informação vêm atacando setores políticos. Por meio de jornais, revistas,
internet e programas de TV disseminam o caos. Planejam a crise. Como guardiães
da inverdade servil, cooptam recursos humanos para combaterem na linha de
frente em manifestações contra a jovem democracia brasileira, enquanto formulam
uma fundamentação concisa para legitimar o golpe brando.
A concentração dos meios de
comunicação social brasileiro gera a nível nacional um oligopólio dominado por
um restrito grupo empresarial, nove famílias ditam as informações na mídia. E
em cada região, predomina o monopólio midiático de empresas ligadas aos grupos
observados em nível nacional. Dominam o mercado: desde a produção, reprodução e
distribuição às revistas, jornais impressos e internet. Faz-se necessário uma
regulamentação que democratize a mídia. O 2º Encontro Mundial dos Movimentos
Populares, realizado em julho, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, documenta
por carta a respeito da democratização da mídia em um de seus eixos: “Promovemos o desenvolvimento de meios de
comunicação alternativos, populares e comunitários, frente ao avanço dos monopólios
midiáticos que ocultam a verdade. O acesso à informação e a liberdade são
direitos dos povos e fundamento de qualquer sociedade que se pretenda
democrática, livre e soberana”. Nessa perspectiva, o projeto de lei de
iniciativa popular da campanha “Para expressar a liberdade” busca uma solução
para a questão, tais como, a proibição da propriedade cruzada (monopólio de
grupos que dominam variados setores da mídia), limites à concentração de verbas
publicitárias e maior espaço para os meios alternativos de comunicação e
diversidade étnica e de gênero. A iniciativa também propõe mais transparência
nas concessões como também, a participação popular nas políticas do setor.
Dados da pesquisa brasileira
de mídia 2015 apontam que cerca de 95% da população brasileira assistem TV com
frequência, em uma média de 4h31min por dia; e 30% ouvem rádio todos os dias,
um aumento de 9% em relação ao ano passado, a maior parte dos ouvintes oriundos
de pequenos municípios. A internet é apontada como o meio de comunicação mais
usado por 48% dos brasileiros, em uma média de 5h diárias. Dito isto, é nítido o papel que estes meios
de comunicação em massa desempenham sobre a sociedade. E quando controlados por
grupos restritos se tornam instrumentos ideológicos que nos ditam o que
comprar, o que devemos pensar. No mesmo Encontro Mundial dos Movimentos
Populares, a presença profética do Papa Francisco alerta para o perigo do
“colonialismo ideológico” midiático: “Da
mesma forma, a concentração monopolista dos meios de comunicação social que
pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é
outra das formas que adota o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico”.
Por isso, gritaremos em breve:
que país é este, que mata gente, que mata a dignidade da pessoa humana em troca
do lucro a qualquer custo. Que país é este que a mídia mente ao ocultar a
verdade que os grandes blocos político-econômicos não querem ouvir e não querem
que saibamos. Que país é esse em que a concentração de renda nos quer consumir como
peças úteis, mas dispensáveis, de uma engrenagem que sustenta uma ordem
econômica favorável a menos de 1% da população que detém mais de 59% da riqueza
nacional. Gritaremos com aqueles que se emudeceram tombados pelo cansaço ou por
se consumirem na luta a favor de um Brasil mais fraterno e justo.
frei Warley Alves de
Oliveira, ofmcap
Referências bibliográficas
Que país é este, que mata gente, que a
mídia mente e nos consome? Jornal
Grito dos/as Excluídos/as. Abr 2015. nº62, a.21, p.1
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