quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome?

Percebo que alguns grupos que se mobilizam para o GRITO têm dificuldades para encontrar algum material que possa subsidiar suas reflexões em preparação ao ato do dia 07/09. A pedido de um destes movimentos, redigi o texto a seguir sobre o lema do 21º Grito dos Excluídos.

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“No coração e na alma de todos e de cada um, grita um lema que é, ao mesmo tempo, uma interrogação, uma denúncia, um questionamento à exploração que debilita e mata”. Dessa forma, manifesta-se o Grito dos Excluídos ao apresentar o lema para o ano de 2015. Em nossa América latina, existe enorme variedade de emissoras de televisão. A grande maioria possui ligações com grupos econômicos e políticos. Os meios de comunicação social tradicionais são uma força estratégica de disseminação da ideologia neoliberalista e dos interesses hegemônicos dos EUA.

O que se observa hoje, em vários países sul-americanos, uma investida política de direita apoiada pela grande mídia tradicional, é parte do plano oculto que objetiva atacar os governos e organizações de esquerda. Segundo o filósofo Buen Abad, “não cabe dúvida sobre o avanço em relação aos golpes de Estado na América latina. Somente no século 21 já tivemos cinco golpes de estado na região e em todos os casos houve guerra midiática, que operou para legitimar esses golpes”. No Brasil, percebe-se a ferocidade com que os principais veículos de (des) informação vêm atacando setores políticos. Por meio de jornais, revistas, internet e programas de TV disseminam o caos. Planejam a crise. Como guardiães da inverdade servil, cooptam recursos humanos para combaterem na linha de frente em manifestações contra a jovem democracia brasileira, enquanto formulam uma fundamentação concisa para legitimar o golpe brando.

A concentração dos meios de comunicação social brasileiro gera a nível nacional um oligopólio dominado por um restrito grupo empresarial, nove famílias ditam as informações na mídia. E em cada região, predomina o monopólio midiático de empresas ligadas aos grupos observados em nível nacional. Dominam o mercado: desde a produção, reprodução e distribuição às revistas, jornais impressos e internet. Faz-se necessário uma regulamentação que democratize a mídia. O 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, realizado em julho, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, documenta por carta a respeito da democratização da mídia em um de seus eixos: “Promovemos o desenvolvimento de meios de comunicação alternativos, populares e comunitários, frente ao avanço dos monopólios midiáticos que ocultam a verdade. O acesso à informação e a liberdade são direitos dos povos e fundamento de qualquer sociedade que se pretenda democrática, livre e soberana”. Nessa perspectiva, o projeto de lei de iniciativa popular da campanha “Para expressar a liberdade” busca uma solução para a questão, tais como, a proibição da propriedade cruzada (monopólio de grupos que dominam variados setores da mídia), limites à concentração de verbas publicitárias e maior espaço para os meios alternativos de comunicação e diversidade étnica e de gênero. A iniciativa também propõe mais transparência nas concessões como também, a participação popular nas políticas do setor.

Dados da pesquisa brasileira de mídia 2015 apontam que cerca de 95% da população brasileira assistem TV com frequência, em uma média de 4h31min por dia; e 30% ouvem rádio todos os dias, um aumento de 9% em relação ao ano passado, a maior parte dos ouvintes oriundos de pequenos municípios. A internet é apontada como o meio de comunicação mais usado por 48% dos brasileiros, em uma média de 5h diárias.  Dito isto, é nítido o papel que estes meios de comunicação em massa desempenham sobre a sociedade. E quando controlados por grupos restritos se tornam instrumentos ideológicos que nos ditam o que comprar, o que devemos pensar. No mesmo Encontro Mundial dos Movimentos Populares, a presença profética do Papa Francisco alerta para o perigo do “colonialismo ideológico” midiático: “Da mesma forma, a concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adota o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico”.

Por isso, gritaremos em breve: que país é este, que mata gente, que mata a dignidade da pessoa humana em troca do lucro a qualquer custo. Que país é este que a mídia mente ao ocultar a verdade que os grandes blocos político-econômicos não querem ouvir e não querem que saibamos. Que país é esse em que a concentração de renda nos quer consumir como peças úteis, mas dispensáveis, de uma engrenagem que sustenta uma ordem econômica favorável a menos de 1% da população que detém mais de 59% da riqueza nacional. Gritaremos com aqueles que se emudeceram tombados pelo cansaço ou por se consumirem na luta a favor de um Brasil mais fraterno e justo.

frei Warley Alves de Oliveira, ofmcap



Referências bibliográficas


Que país é este, que mata gente, que a mídia mente e nos consome? Jornal Grito dos/as Excluídos/as. Abr 2015. nº62, a.21, p.1

II Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Promover la libertad de expresión. La Carta de Santa Cruz. Santa Cruz de la Sierra, 2015. Disponível em: Acesso em: 25 jul. 2015.

AVILA, Róber Iturriet. Os limites atuais da distribuição de renda e riqueza no Brasil. Carta Maior, 2015. Disponível em: Acesso em: 26 ago. 2015.

FRANCISCO, Papa. Discurso: II Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra, 2015. Disponível em: Acesso em: 9 jul. 2015.

JUNIOR, Vilson Vieira. Oligopólio na comunicação: um Brasil de poucos. Disponível em: Acesso em: 25 ago. 2015.

REPÚBLICA, Secretaria de comunicação social da presidência da. Pesquisa Brasileira de mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Disponível em: Acesso em: 26 ago. 2015.


RODRIGUES, Fania. Mídia latina refaz "Operação Condor". Revista Caros Amigos. Caros Amigos: São Paulo, 2015. nº 221, a.19, p.24-27