quinta-feira, 31 de março de 2016

Um outro que não eu

Um outro que não eu passou por mim,
ligeiro como a fase de uma lua.
Foi quando percebi o ar bucólico.
Apercebi-me numa fragrância de pinheiros
quando esse outro que não eu passou por mim.
Brincava com as palavras, a falar de céu e de terra
como quem fala da vida ou da lida com a mesma leveza na voz.
E então, passou por mim, abraçou-me e foi-se embora.
Saberás por ventura, que meus olhos brilhavam silenciosos e risonhos
quando tu, este outro, exalava as suas palavras?

quinta-feira, 3 de março de 2016

Linguagem infantil

          Minha sobrinha ainda pequena aprendia a formar as suas primeiras frases quando a vi pela última vez. Ela tinha seu próprio vocabulário. Uma frase ficou inesquecível em minhas lembranças, ela dizia:”uendo, uendo, uendo?”. Tradução: o que você está comendo? O tio não comia nada sólido, apenas simulava a ação para ouvi-la perguntar; o que o tio comia naqueles momentos era a delicadeza de suas singulares palavras, livres de toda regra gramatical das pessoas grandes, pois pertencia somente ao seu vocábulário pessoal. Cada vez que eu a ouvia perguntar em seu idioma infantil, deliciava-me com a singeleza da infância e me sentia novamente, um pouco pessoa pequena também.