terça-feira, 9 de outubro de 2018

Alma transgressora

As sombras do passado bruxuleiam suas trevas como um eco no tempo, 
sussurram pesares sobre os meus passos incertos,  
espalham aos ventos: meu descaminho é desvairado. 
Minh’alma transgressora sob o sol de um verão eterno desfalece 
enfrenta demônios incorpóreos de um rebanho servil, 
cai em gargalhadas a sós  
e cai novamente, em pranto,  
da presente falência de humanidade. 
O futuro é ilusão, sentenciam-se extinguir  
a raça e o sangue 
o amor que não cabe em mim. 
As sombras retornam, vez e outra, no tempo, 
são as mesmas sombras projetadas pelos corpos pútridos do maldito rebanho, 
de almas vazias de transgressão. 



quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Clara Irmã Universal

Clara, tu és espelho onde o Cristo é contemplado 
no silêncio fervoroso das irmãs, 
virgem prudente que manteve sempre acesa 
sua lâmpada de amor e doação. 

Dama pobre, tua teimosia foste santa, 
em não querer nada além do que supria 
mulher forte, de esperanças era prenhe 
e às irmãs sororidade infudia. 

Mudazinha que Francisco semeou em Damião, 
ao seu lado és um ramo valoroso, original 
que teu Amado fez crescer qual mãe fecunda em sua casa 
e dos Menores, conselheira sem igual. 

Ao mundo inteiro, serva amante, teu amor nos clarifica 
às exigências do evangelho assumir. 
E se no claustro tescondeste toda a vida 
ao mundo inteiro o teu brilho reluziu.

sábado, 19 de maio de 2018

Palco

Que o silêncio sobre a minha lembrança não se dilua em ausências derramadas, 
seja apenas preservada como a única saudade de um coração amigo. 
E o tempo, inexistente, nos seja a testemunha muda da minha paixão ferida, 
e da minha superação. 
Que o outro altar da nossa redenção continue a escancarar a sublimidade  
do sentimento humano 
e por detrás da coxia nos revele a divindade qual arte que não carece explicação. 
Que eu te ame, mesmo sem dizê-lo,  
e meus olhos te sorriem todas as vezes que encontrarem a ti. 
Que o desejo que consumira a minha carne 
possa ser comparada ao palco que tem apagada as suas luzes 
e apagando consigo a materialidade do espectador, fundi-a  
à ilusão de uma nova realidade 
dando lugar a novos mundos possíveis 
como um último beijo entre dois amantes antes do impensável fim.