Sonhei com um bondinho que atravessava a cidadezinha em que
cresci. Sonho que volta e meia retorna à lembrança. Mas não existe um bonde a
atravessar aquelas ruas que outrora caminhei a pé. Ele existe somente em meus
sonhos. Quando digo carinhosamente no diminutivo, não quero denominá-lo como um
teleférico, mas, refiro-me àqueles bondes que percorriam as grandes cidades no
início do século passado. Queria um desses em Coroaci...
O percurso já está arquitetado em minha imaginação. Do largo da
igreja matriz para a avenida comercial, em seguida, a pracinha central e a rua
subsequente para enfim circular a praça Demétrio Coelho e retomar a rota
inversa. O deslocamento do bondinho cobriria um eixo do perímetro urbano quase
de um extremo ao outro.
Imagine as donas adiantando os passos para chegar à mercearia, à casa
da comadre ou ao banco sacar sua aposentadoria. Ou os senhores à procura de quem
queira trocar uma prosa para além do ponto costumeiro do largo da igreja. E os
jovens, curtindo um passeio de bonde enquanto chegam à pracinha central para
encontrar seus amigos. O transporte seria a novidade da região, o charme da
população coroaciense.
A criança que fui não se esqueceu do bondinho. Ele continua em
atividade, vagarosamente belo e charmoso, confrontando o trânsito pacato do
município. Em meus sonhos, o meu bondinho é coletivo, não sou seu proprietário.
Sou só mais um passageiro admirado que circula no vai-e-vem sem fim como quem
vai embora e sempre retorna para casa.