terça-feira, 24 de novembro de 2015

O bondinho

Sonhei com um bondinho que atravessava a cidadezinha em que cresci. Sonho que volta e meia retorna à lembrança. Mas não existe um bonde a atravessar aquelas ruas que outrora caminhei a pé. Ele existe somente em meus sonhos. Quando digo carinhosamente no diminutivo, não quero denominá-lo como um teleférico, mas, refiro-me àqueles bondes que percorriam as grandes cidades no início do século passado. Queria um desses em Coroaci...

O percurso já está arquitetado em minha imaginação. Do largo da igreja matriz para a avenida comercial, em seguida, a pracinha central e a rua subsequente para enfim circular a praça Demétrio Coelho e retomar a rota inversa. O deslocamento do bondinho cobriria um eixo do perímetro urbano quase de um extremo ao outro.
Imagine as donas adiantando os passos para chegar à mercearia, à casa da comadre ou ao banco sacar sua aposentadoria. Ou os senhores à procura de quem queira trocar uma prosa para além do ponto costumeiro do largo da igreja. E os jovens, curtindo um passeio de bonde enquanto chegam à pracinha central para encontrar seus amigos. O transporte seria a novidade da região, o charme da população coroaciense.

A criança que fui não se esqueceu do bondinho. Ele continua em atividade, vagarosamente belo e charmoso, confrontando o trânsito pacato do município. Em meus sonhos, o meu bondinho é coletivo, não sou seu proprietário. Sou só mais um passageiro admirado que circula no vai-e-vem sem fim como quem vai embora e sempre retorna para casa.