terça-feira, 7 de maio de 2013

Rosa Linda


Quando o amor alcança as profundezas do espírito, os limites da natureza humana tornam-se simples detalhes de quem aprendeu a viver. Eis a percepção resultante de meses de voluntariado na Vila Vicentina Padre Alaor. Os senhores e senhoras que ali residem experimentam na amizade essa máxima.
A grande maioria dos velhinhos possui dificuldade na fala ou a ausência da mesma. Entretanto, a comunicação segue eficiente por meio de gemidos e gestos. A linguagem tem necessidade apenas do olhar atento para concretizar suas palavras silenciosas.
Duas senhoras em especial, amigas afetivamente inseparáveis, causam-me forte impressão. Dividem o quarto e os dias do ano. O amor encontrou nelas a reciprocidade mais natural. Amor não expressado em palavras, mas, declarado em cada sorriso e nos abraços limitados pelo braço das cadeiras onde se assentam.
Raras vezes foi necessário que uma delas se ausentasse da companhia da outra. Certa vez, Rosalinda precisou sair para consulta médica. Sua amiga, Ângela, se opôs e, entre gemidos bravos e gestos fez o que lhe pareceu possível para impedir a saída da amiga. Pensava ela que, caso esta fosse, poderia não mais voltar.
Meses depois o medo de Ângela tomou feições reais. Rosalinda faleceu. E sua cadeira ao lado de Ângela permanece vazia. Seus olhos umedecidos fazem-me recordar que sua amiga não voltará.
Apesar disso, o amor cultivado por essa amizade não cessa com a morte. Afinal, o Amor que vence os limites da natureza é eterno.