Mês de maio. Em muitas igrejas, ao final da missa se faz uma
homenagem a Maria. Coroação. Uma pequena trupe infantil vestida de anjinhos
entram cantando um canto antigo até o altar montado para o momento. A imagem da
santa fica no topo e os anjinhos se colocam em volta. De par em par, vão
cantando suas estrofes e em seguida, depositam um símbolo: flores, um coração, um
véu (se for mulher) e a coroa na imagem da santa ou do santo homenageados.
Na minha infância em Coroaci, fiz muitas coroações de Nossa
Senhora, do Sagrado Coração de Jesus e da Senhora Santana, a padroeira. Dona
Nigrinha organizava as coroações, preparava e ensaiava as crianças. Em todas
elas, dona Nigrinha me encarrega sempre das flores ou do coração. Nunca
depositei a coroa... será que pequei, tão criança que eu era, por querer demais
algo assim? Mas também nunca pedi para mim a função de coroar. Se eu voltasse
no tempo e tivesse a chance de falar sobre isso com o menino que fui, diria a
ele – eu – que no futuro me sentiria muito orgulhoso por sempre depositar
flores e o coração nas imagens dos santos naquelas coroações.
E diria mais a mim mesmo, diria que as flores me trazem à memória
a beleza e a arte. E que o coração traz vida aos meus desejos e amores.
Poderíamos ofertar mais? A beleza e a arte; o desejo e o amor é o que
impulsiona a nossa humanidade para o futuro, marcas de nossa efêmera existência
sobre a Terra.